CONHECIMENTO ICTIOLÓGICO TRADICIONAL E A DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DE RECURSOS PESQUEIROS PELOS PESCADORES DE CONDE, ESTADO DA BAHIA, BRASIL.

Eraldo M. Costa-Neto y José Geraldo W. Marques 1

 

1Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas

Km 3 BR 116 Campus Universitário

44031-460 Feira de Santana, Bahia – Brasil

 

 

"Os nossos pescadores sabem falar dos peixes, vidas, costumes, predileções e manias. Conhecem as tradições velhas e as famas de cada espécie".

(Cascudo, 1971)

 

Abstract

This research has been carried out in the city of Conde, which is in the north of the State of Bahia, Northeastern Brazil. In this article, fishermen’s knowledge related to the temporal and spatial distribution of fishing resources is given. Data were obtained through open and semi-structured interviews made with 114 members from four local fishing communities, especially from Siribinha Beach. Both women and men were interviewed. Fish specimens were collected and taxonomically identified. According to the data, we can affirm that Siribinha fishermen know where and when finding proper fish species. This knowledge has been proved to be consistent with what is known in the western science. It can also be stated that fishermen use ecological criteria in order to do their ethnotaxonomic classification of fish resources. Their folk knowledge should be taken into account in the developmental planning, environmental assessment studies, as well as in the management and monitoring of valuable fish species.

Resumo

Este estudo foi desenvolvido no município de Conde, o qual está localizado na região norte do estado da Bahia, Nordeste brasileiro. O presente artigo trata do conhecimento dos pescadores relacionado com a distribuição temporal e espacial de recursos pesqueiros. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas abertas e semi-estruturadas realizadas com 114 membros de quatro comunidades pesqueiras locais, especialmente da Praia de Siribinha. Entrevistaram-se tanto homens quanto mulheres. Espécimes de peixes foram coletados e identificados taxonomicamente. De acordo com os dados obtidos, podemos afirmar que os pescadores de Siribinha sabem onde e quando encontar as espécies de peixes apropriadas. Esse conhecimento mostrou estar consistente com a ciência ocidental. Também pode ser afirmado que os pescadores usam critérios ecológicos para construírem uma classificação etnotaxonômica dos recursos pesqueiros. Esse conhecimento deveria ser considerado em estudos sobre avaliação ambiental e nos planos de desenvolvimento, assim como no manejo e monitoramento das espécies de peixes valiosas.

 

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1. Introdução

A atividade pesqueira artesanal requer dos pescadores um conhecimento etnoecológico que possibilita a utilização dos recursos pesqueiros e garante a sustentabilidade desta praxis (Machado-Guimarães, 1995). De acordo com Marques (1993), os pescadores portam o saber e o saber fazer relacionados com a estrutura e função do(s) ecossistema(s) a que estão vinculados. No que diz respeito aos pescadores artesanais do estado da Bahia, as tradições de pesca são excepcionais porque contêm conhecimento ambiental local altamente refinado, acumulado por um período de centenas de anos (Cordell, 1983). No entanto, este conhecimento permanece ainda largamente desconhecido de ecólogos e administradores, que vêem o conhecimento tradicional como um acúmulo de superstições e de crenças não verificáveis.

Partindo-se do princípio de que os atos de conceber, perceber e conhecer constituem operações intelectuais desenvolvidas por usuários de recursos naturais no ato de realizar a apropriação da natureza (Toledo, 1990), populações tradicionais, como a de pescadores artesanais, possuem informações teórico-práticas sobre como manejar, conservar e utilizar os recursos naturais de maneira mais sustentável.

Com base nas considerações acima, este estudo objetiva descrever o modo como os pescadores artesanais de Siribinha, comunidade pesqueira localizada no litoral norte do Estado da Bahia, no nordeste do Brasil, distribuem os recursos pesqueiros no tempo e no espaço.

Considerando-se, ainda, que o conhecimento tradicional de povos indígenas e locais está ameaçado de extinção tanto quanto os recursos biológicos, pretende-se com esse estudo constatar a consistência do conhecimento ictiológico dos pescadores de Siribinha, deixando claro sua importância para a manutenção das características artesanais da atividade pesqueira, bem como chamando atenção para a inclusão da cultura local no processo de desenvolvimento sustentável.

 

2. Material e Métodos

A cidade do Conde situa-se na região litoral norte do estado da Bahia, cujas coordenadas geográficas são 11o48’S e 37o37’W. A região apresenta um clima úmido a subúmido, uma temperatura média de 25,4oC, uma pluviosidade anual média de 1412 mm e vegetação típica de regiões litorâneas tropicais (CEI, 1994).

A comunidade pesqueira de Siribinha foi escolhida como o local de estudo devido: à sua localização (situa-se próxima à desembocadura do Rio Itapicuru e é limitada pelo mar e pelo estuário); ao seu isolamento relativo (foi a última comunidade a ser conectada ao município por meio de uma estrada de terra); à sua diversidade biológica (diferentes espécies da fauna e da flora são encontradas habitando a restinga, as massas d’água, a mata adjacente, as dunas e o manguezal); ao pouco conhecimento literário a seu respeito (salvo o trabalho de Queiroz, 1997) e ao grau de impacto sócio-ambiental a que está sujeita.

O trabalho de campo foi realizado nos anos de 1996 e 1998 Nesse período, cerca de dez excursões à área de estudo foram realizadas, totalizando 56 dias de trabalho de campo. Ao todo, um grupo de 114 informantes provenientes de 5 localidades foi entrevistado, distribuídos da seguinte forma: Barra do Itariri, 3 informantes; Conde, 8; Sitio do Conde, 14; Poças, 5 e Siribinha, 84. No início, os dados culturais foram obtidos por meio de entrevistas livres não-organizadas para facilitar a relação entre o entrevistador e os entrevistados (rapport). As expressões e palavras nativas foram utilizadas a fim de gerar maior confiança entre as partes. Às entrevistas livres, seguiram-se entrevistas semi-estruturadas com o apoio de uma lista contendo os nomes vernaculares de 68 peixes, com a qual se obteve dados sobre o conhecimento dos pescadores acerca dos recursos ictiofaunísticos.

As entrevistas duravam poucos minutos a cerca de duas horas e foram documentadas através da escrita e/ou eletromagneticamente. As transcrições e fitas gravadas encontram-se depositadas no Laboratório de Etnobiologia da Universidade Estadual de Feira de Santana. As cenas culturais, as atividades de pesca, os atores sociais e os recursos faunísticos foram registrados fotograficamente tanto por meio de diapositivos quanto por meio de fotos em papel, os quais também encontram-se compondo o acervo do referido Laboratório.

Do total de entrevistados, apenas um foi escolhido com consultor nativo, pois o mesmo auto-nomeou-se "mestre de camboa" e era indicado pelos outros entrevistados como "bom" pescador, além de se ter estabelecido um bom nível de rapport. A acurácia de seu conhecimento foi testada mediante a confecção de tabelas de cognição comparada (Marques, 1995).

Os dados foram analisados segundo o modelo de união das diversas competências individuais, o qual tem sido a tendência em trabalhos etnocientíficos. Os trechos de informações utilizadas por diferentes entrevistados foram tidos como "memes" de idéias. Segundo Ball (in Marques, 1995), memes "são os menores pedaços reconhecíveis de informação cultural, entidades auto-duplicadoras capazes de serem transmitidas de um cérebro para outro através de comportamento verbal". Os controles foram feitos através de testes de verificação de consistência e de validade das respostas (Marques, 1991), recorrendo-se a entrevistas repetidas em situações sincrônicas e diacrônicas. As primeiras ocorrem quando uma mesma pergunta é feita a pessoas diferentes em tempo bastante próximo e as segundas, quando uma pergunta é repetida à mesma pessoa em tempos bem distintos. A consistência e a robustez do conhecimento tradicional foram observadas mediante a construção de tabelas de cognição comparada, nas quais trechos das entrevistas são comparados com trechos da literatura referente ao bloco de informação citada.

Na análise dos dados, utilizaram-se as abordagens êmica e ética balanceadas tendo como base os quadros de referência (taxonômico, espacial, temporal e social) de Johannes (1993) e os quatro tipos básicos de conhecimento (estrutural, dinâmico, relacional e utilitário) sobre a natureza propostos por Toledo (1990).

Cerca de 70 espécies de peixes foram coletadas, constituindo-se esta coleção apenas uma representação parcial da diversidade ictiofaunística da região. Algumas espécies foram compradas pelo autor na feira pública do Conde, mas a maioria foi doada pelos pescadores de Siribinha. Uma pequena parte foi ainda obtida junto à bióloga Marta Itaparica. Os espécimes foram identificados pelo ictiólogo Paulo Duarte (Departamento de Ciências Biológicas da UEFS) e encontram-se depositados na coleção científica do Laboratório de Ictiologia do referido Departamento. A partir da identificação taxonômica científica dos peixes foi possível obter a correspondência entre a classificação ictiológica nativa e a científica.

 

3. Resultado

Os pescadores de Siribinha conhecem onde e quando determinado recurso ou fenômeno ocorre e é baseado nos conhecimentos dinâmicos e relacionais (Toledo, 1991) que eles otimizam a apropriação dos recursos. Segundo o referencial de tempo e espaço possuído pelos pescadores, aspectos relacionados com a distribuição e abundância dos recursos pesqueiros são percebidos e emitidos sob a forma de diferentes etnocategorias, especialmente relacionadas com o hábitat. Exemplos de recursos e eventos biológicos distribuídos ao longo do ano, segundo a ótica dos pescadores, são mostrados na Tabela 1. Um exemplo de abundância e de distribuição temporal e espacial é representado pelo niquim (Thalassophryne nattereri), o qual "aparece durante todo o ano em lugar de entre-marés, mas aparece mais em janeiro e fevereiro; ele desova em janeiro".

Com base no modelo percebido, "inverno" e "verão" mostram ser as duas principais estações do ano, interferindo tanto nas atividades de pesca, dependendo se estas ocorrem nas "costas do mar", "rio" ou "brejo", quanto na abundância e distribuição espacial e temporal dos recursos faunísticos, seja quanto a características intrínsecas às espécies, como período reprodutivo, ou quanto a respostas comportamentais a estímulos ambientais. Em Siribinha, o "inverno" é a estação correspondente ao período das chuvas, iniciando-se na "quaresma" e estendendo-se até meados do mês de agosto, enquanto que o "verão" tem início em meados de agosto e prolonga-se até o final da Semana Santa. Distorções quanto ao início desta estação, no entanto, foram comuns. Segundo o ponto de vista de três entrevistados, o "verão" só começa após a passagem de um evento local chamado "cambueiro de setembro", um fenômeno atmosférico correspondente a uma fonte ventania.

Segundo os pescadores, os peixes mais encontráveis e pescáveis no estuário durante o "inverno" são: rubalo (Centropomus spp.); carapeba (Diapterus rhombeus), tainha (Mugil spp.) e bagre (nome comum para representantes da família Ariidae), recursos cuja abundância registrada no período hibernal deve-se, provavelmente, ao seu período reprodutivo, uma vez que estas etnoespécies reproduzem-se nos meses de " inverno".

O conhecimento dos pescadores sobre a sazonalidade dos peixes dá-se também através de associações com fenômenos meteorológicos. Segundo eles, na época de "temporal" os peixes "arribam/rolam" (sobem o rio). Com relação à abundância, os pescadores observam que a curvina (Micropogonias furnieri) e a sororoca (Trichiurus ?) "só dão mais por tempo, nas tempestades". Características hidrológicas, geradas por condições meteorológicas (chuvas), também são importantes na distribuição temporal dos recursos pesqueiros uma vez que influenciam na dinâmica das atividades tanto dos pescadores ("No inverno, quando o rio fica choco, com água doce, os peixes somem e aí o pessoal vai pescar aratu (Goniopsis cruentata, um crustáceo) e ostra (Crassostrea sp. ?) quanto dos peixes ("Se a água do rio ficar suja vai dar rubalo, mas se a água ficar limpa e ventar vai dar carapeba e tainha"). Por outro lado, fenômeno cósmico, como o ciclo lunar, e o período de surgimento do "verdete" (boom de fitozooplâncton) são fatores significativos que interferem, têmporo e espacialmente, na distribuição dos recursos explotáveis. Com relação ao primeiro, os pescadores percebem e descrevem a influência das fases da lua nos padrões de distribuição e abundância dos organismos estuarinos/marinhos ("Tem lua que o peixe dá mais na lua cheia e tem também que só dá mais na lua nova"). O verdete, por sua vez, refere-se a uma "espuma" que surge originalmente no mar e cuja coloração varia do "meia verde" ao "amarelo", "amarelo bem escuro" e "preta". Sua formação necessita de certas condições ambientais, tais como "vento", "chuva" e "sol quente". Segundo os pescadores, o verdete pode dar-se no "verão", mas seu maior pico é no "inverno". Os peixes associados ao verdete são principalmente a tainha e a curimã (Mugilidae), que à época de seu aparecimento são pescadas com tarrafas ao longo da costa.

Aspectos fenológicos das etnoespécies marinhas e dulcícolas são percebidos pelos pescadores, que reconhecem as diferentes épocas e espaços nos quais os peixes e demais organismos reproduzem-se. Como exemplos, citam-se os períodos reprodutivos do rubalo (Centropomus spp.) e da curimã (Mugil spp.), peixes que entram no "rio" nos meses de "inverno" para realizarem desova, dando-se a do primeiro em agosto e a do segundo em junho/julho. A percepção da abundância de determinadas etnoespécies em tempos específicos, talvez devido à estação reprodutiva, faz com que os pescadores refiram-se a estes como o "mês do/da" (e. g., "Agosto é o mês do rubalo"). Um exemplo de pressão predatória sobre indivíduos jovens é evidenciada para o cação-rabo-seco (Rhizoprionodon sp.), cuja desova ocorre entre março e abril. Indivíduos pequenos desta espécie, variando de 15 a 50 cm de comprimento, foram capturados diariamente pelas redes de espera colocadas nas "costas do mar" durante trabalho de campo realizado em março de 1998.

Com relação à dimensão espacial, um total de vinte e duas unidades espaciais são percebidas, nomeadas e utilizadas pelos pescadores de Siribinha. Estas, referem-se tanto a espaços naturais quanto a espaços artificiais (e. g., "comedias" e "pesqueiros"). As unidades espaciais percebidas, divididas em categorias e subcategorias, são empregadas no sistema classificatório dos recursos faunísticos. Este sistema, baseado em habitat, é feito de acordo com: (a) percepção das grandes divisões hidrográficas; (b) segregação vertical; (c) manchas de fundo e (d) microhabitas.

Segundo observa-se no Quadro 1, os peixes são pescados em pelo menos cinco grandes divisões hidrográficas, referidas como mar, rio Cavalo Russo (de água doce), rio Itapicuru (= estuário, de água salobra), brejo e lagoa. De acordo com o ambiente aquático em que se encontram, os componentes ictiofaunísticos são etnocategorizados como "peixes do mar" (e. g., budião Bodianus pulchellus), "peixes do rio" (e. g., piranha Serrasalmus cf. piraya), "peixes de brejo" (e. g., caboge Callichthys cf. callichthys), "peixes de água doce" (e. g., curimatã Prochilodus sp.), "peixes de lagoa" (e. g., piaba Astyanas cf. bimaculatus) e "peixes de mar e rio", como o mero (Epinephelus itajara).

Quanto à segregação vertical, os pescadores explicitamente reconhecem que as etnoespécies que habitam o "rio"/estuário posicionam-se em três níveis da coluna d’água, distinguindo-as como "peixes de veia d’água" (e. g., tainha Mugil spp.), "peixes de mei’água" (e. g., xaréu Caranx) e "peixes de fundo" (e. g., rubalo-silvela Centropomus undecimalis) (Quadro 2). A estes, no entanto, acrescentam-se outros dois níveis "intermediários" inferidos nas etnocategorias dos "peixes que pulam/voam" (e. g., avuador Prionotus punctatus) e dos "peixes que se enterram" (e. g., suia Citharichthys sp.), perfazendo um conjunto de cinco níveis. Deste modo de perceber a distribuição vertical dos peixes na coluna d’água resultam quatro etnocategorias, reconhecidas pelos pescadores como "peixes que andam aboiados" (e. g., sardinha e tainha); "peixes que não andam aboiados" (e. g., arraia e suia); "peixes que andam aprofundados" (e. g., "peixes de couro", como os bagres) e "peixes que não têm posição" (e. g., curimã). Como os pescadores informam, a posição ocupada pelos recursos ictiofaunísticos interfere no modo de captura ("Sororoca, tainha e curimã, quando estão aboiadas, são difíceis de serem pegas porque vêem a tarrafa").

 

Quadro 1. Sistema classificatório ecológico baseado em habitat (quanto às grandes divisões hidrográficas percebidas) utilizado pelos pescadores na classificação dos peixes.

 

 

As etnoespécies marinhas, por sua vez, também são distribuídas em três níveis (Quadro 2), mas em razão da profundidade na qual são coletadas elas são identificadas como "peixes de fundo", representados por elementos pescados em profundidades que variam de 35 a 200 metros (e. g., vermelho Lutjanos sp.); "peixes de seco", indivíduos pescados próximos à costa (e. g., dentão Carangidae) e "peixes de fundo e seco", representados por indivíduos que habitam diferentes profundidades (e. g., badejo Epinephelus sp.).

Com relação às manchas de fundo, existem três tipos comuns aos ambientes estuarino e marinho: "areia"; "lama" e "pedra" (Quadro 3). A categoria "lama" é significativa uma vez que quatro subetnocategorias de peixes à ela são associadas: "peixes que são pescados na lama" (e. g., pescada Cynoscion microlepidotus); "peixes que comem na lama" (e. g., curvina Micropogonias furnieri); "peixes que se alimentam de lama" (e. g., carapeba Diapterus rhombeus) e "peixes que se enterram na lama" (e. g., suia Citharichthys sp.). Segundo os pescadores, "o fundo de lama é melhor porque o peixe come mais na lama, porque geralmente as iscas (poliquetas) come lama". Um exemplo de organismo que habita e é coletado em fundos constituídos de "areia" é o peixe-sabão (Rypticus sp.). Fundos de "pedra", por sua vez, existem em profundidades maiores, mas estes são pouco explorados pelos pescadores de Siribinha que não possuem embarcações apropriadas para viagens a longas distâncias. Não obstante, eles identificam etnoespécies, tais como mero ("Em local de pedra ele faz morada") e capado (Balistes vetula), como representantes do grupo dos "peixes de pedra").

 

Quadro 2. Sistema classificatório ecológico baseado em habitat (quanto à segregação vertical) utilizado pelos pescadores na classificação dos peixes.

 

Tabela 3. Sistema classificatório ecológico baseado em habitat (quanto às manchas de fundo) utilizado pelos pescadores na classificação dos peixes.

 

Tabela 4. Sistema classificatório ecológico baseado em habitat (quanto aos microhabitats) utilizado pelos pescadores na classificação dos peixes.

 

 

Com relação às micro-unidades espaciais, observa-se que os pescadores distinguem e exploram ao menos sete tipos de microhabitats, associando a cada um deles componentes ictiofaunísticos próprios, reconhecidos nas seguintes etnocategorias: "peixes de toco de pau" (e. g., carapeba D. rhombeus); "peixes de loca" (e. g., mero E. itajara); "peixes de camboa" (e. g., bagre Ariidae); "peixes de buraco" (e. g., cramuru Ophichithidae); "peixes de cepa" (e. g., cavalo-marinho Hyppocampus reidi); peixes de pedra" (e. g., capado Balistes vetula) e "peixes de pesqueiro" (e. g., rubalo Centropomus spp.) (Quadro 4). Os microhabitats identificados como "toco de pau" e "cepa" referem-se a troncos e raízes de árvores (principalmente coqueiros) caídos na água, respectivamente. "Camboa" também é um instrumento de pesca que é armado em determinadas áreas do estuário. "Pedra" e "loca" são etnohabitats relacionados com recifes naturais e afloramentos rochosos encontrados no leito do rio, enquanto que o termo "buraco" refere-se a depressões no substrato. Os "pesqueiros" destacam-se dentre os microhabitats porque constituem ambientes artificiais manejados pelos pescadores, que os constróem com galhos e ramos de árvores do mangue derrubados e/ou afundados na água. Estes ambientes antrópicos passam a proporcionar abrigo e alimento para diferentes espécies do estuário. Os pescadores, conhecendo a etologia dos peixes que habitam o "rio"/estuário, pescam os recursos no período certo, conforme os trechos abaixo evidenciam:

"O galho no mangue é mais para mirucaia, pra pescar de anzol.

Quando a galha está bem velha aí os peixes vêm mais. Quando

tá saindo aquela bagaceira do pau aí os peixe encosta. Quando

a galha está bem mais velha aí rubalo e carapeba aparecem".

"Pega um galho de pau e coloca no rio. Ali é um ajuntamento

de peixe, porque ali ele faz sombra e os peixe gosta. Então ali

a gente fez uma comedia de peixe. Tem peixe que tem comedia.

No caso do rubalo é fazer isso. Quanto mais o galho de pau fica

velho, mais ele faz morada".

(Pescadores de Siribinha)

 

Conhecer em detalhe a ecologia trófica de seus peixes/presas resulta em um caráter utilitário. Um exemplo de tal detalhe é expresso na preparação de uma "comedia de peixe", que resulta no processo de criação de um hábitat trófico pelos pescadores individuais ou em grupo. A "comedia" é elaborada a partir de uma mistura de camarão pisado e areia, colocada sempre na mesma localidade do estuário para que os peixes acostumem-se a vir comer no local. Segundo os pescadores, "depois que o peixe aviceia ali, mata muito peixe".

 

4. Discussão

As atividades de pesca desenvolvidas na Praia de Siribinha são do tipo artesanal, apresentando-se como uma atividade tipicamente masculina, enquanto que a mariscagem, processo que compreende os atos de pescar e descarnar os mariscos (crustáceos e moluscos bivalves), é realizada basicamente pelas mulheres e crianças. O conhecimento que os pescadores têm da distribuição e da abundância dos recursos pesqueiros no espaço e no tempo, assim como das relações tróficas entre as espécies, constitui-se em um recurso valioso que lhes possibilita a correta realização de suas atividades de pesca.

Com relação às estações do ano percebidas pelos pescadores, observa-se que "inverno" e "verão" marcam as atividades de pesca desenvolvidas em Siribinha. Como Marques (1991) salienta, estas duas estações não correspondem vis-à-vis às estações do ciclo anual oficial, mas a períodos relacionados com chuva e estiagem. De acordo com a percepção local, a passagem da Semana Santa marca o início do inverno e a retirada das redes de espera do meio marinho para serem colocadas no "rio"/estuário, uma vez que o mar "embrabece" não dando para os pescadores realizarem a "vigia"/despesca das redes. Caso algum grupo persista em deixar suas redes no mar durante os meses de chuva, pode não conseguir despescá-las e o pescado terminar deteriorando-se devido ao tempo em que permanece nas redes. Como os próprios pescadores observam, "do mês de setembro em diante a pescaria fica melhor no mar e depois da Semana Santa, aí a pescaria fica melhor no rio porque o mar vai ficar ruim; aí se você deixar a rede pra dormir, acontece de manhã você chegar na beira da praia você não conseguir mais ir lá". Desse modo, os pescadores passam a desempenhar suas atividades quase que exclusivamente no "rio" causando, assim, uma maior pressão predatória sobre os recursos, principalmente daqueles que se encontram em desova nesse período.

Os ciclos lunar e de marés exercem uma influência tanto no comportamento dos peixes quanto no de seus predadores humanos. Na percepção local, um conjunto de termos marca as mudanças das correntes, nomeadas como "maré de lançamento", "maré de quebra" e "maré morta". Para diagnosticar uma corrente de maré os pescadores prestam atenção no horário de surgimento e desaparecimento da lua na abóbada celeste. Como Cordell (1974) observa, o sistema lua-maré é um índice preciso de mudanças no comportamento dos peixes, especialmente migração e desova. De acordo com este autor, a decisão de onde pescar a cada dia é feita com base nas informações pré-determinadas do ambiente. A fonte dessa informação, segundo ele, é a percepção que o pescador tem das regularidades cíclicas das marés, que afetam tanto a operação mecânica dos métodos de pesca quanto a distribuição das espécies dentro do estuário. A compreensão da periodicidade lunar e de sua influência nos movimentos e concentrações dos organismos marinhos é crucial para o sucesso das pescarias (Cordell, 1978). Desse modo, ter o domínio do calendário lunar resulta em um caráter adaptativo no sentido de que técnicas apropriadas serão requeridas no momento certo para as espécies certas.

A percepção dos pescadores com relação à entrada de centropomídeos e mugilídeos no estuário concorda com o conhecimento científico acerca destas espécies, reconhecidamente eurihalinas e anádromas. Com relação aos primeiros, Figueiredo e Menezes (1980a) registram que estes peixes são abundantes em estuários, que parecem constituir ambientes ideais para a procriação de algumas espécies. Os exemplos de peixes identificados pelos pescadores como habitantes de determinado corpo d’água também concordam com o conhecimento ictiológico da distribuição destas espécies. Por exemplo, Figueiredo e Menezes (1980b) afirmam que o mero (Epinephelus itajara) vive em águas costeiras entrando freqüentemente em regiões estuarinas para se alimentar. Como os pescadores observam, esta espécie é pescada tanto no mar quanto no estuário.

Com base nos dados obtidos, os pescadores de Siribinha parecem distinguir zonas ecológicas tal qual percebidas e distinguidas por comunidades pesqueiras localizadas ao sul do estado da Bahia (Robben, 1985). Segundo este autor, os pescadores do sul do estado identificam zonas ecológicas que são percebidas como um ecossistema único. Estas zonas são: rio; mangue; recife de coral, que os pescadores do litoral norte denominam "pedra"; bancos de lama (= "lama") e margem da plataforma continental (= "costas do mar"). Uma sexta zona ecológica, a de entre-marés, aparentemente parece não receber denominação específica por parte dos pescadores estudados. O mesmo modo de percepção de zonas ecológicas por pescadores do estado de Alagoas, nordeste brasileiro, foi registrado por Marques (1991).

A técnica da "comedia" e da construção de habitat trófico exemplifica o manejo de cadeias alimentares por parte dos pescadores. Tal técnica assemelha-se ao chum utilizado pelos Cha-Cha, pescadores que também preparam uma massa a partir de areia e camarão com a intenção de atrair peixes (Morrill, 1967). Segundo Marques (1995), a inserção correta do item alimento/isca otimiza o esforço da pesca.

O mesmo modo de perceber a distribuição vertical de peixes na coluna d’água foi encontrado por diferentes autores (Akimichi, 1978; Posey, 1984; Royero, 1989; Morán, 1990; Bahuchet, 1992; Marques, 1991, 1995; Ribeiro, 1995; Mourão e Nordi, 1996), que registraram um número mínimo de três até um máximo de sete níveis. Como Marques (1991) observa, circunstâncias comportamentais, temporais e/ou ambientais permitem que uma mesma espécie ocupe níveis diferentes. Estar na "veia d’água", por exemplo, é comportamentalmente significativo uma vez que respostas etológicas podem ser dadas a diferentes estímulos ambientais. O "fundo" é percebido como uma área pesqueira importante, pois a maioria das etnoespécies de importância econômica para o comércio local frequenta este nível, como as carapebas (gerreídeos) e os rubalos (centropomídeos). Conforme Marques (ibid) discute, "fundo" pode assumir um caráter extremamente relativo e referir-se muitas vezes a substrato. Assim, subcategorizações dos "peixes de fundo" dizem respeito àqueles indivíduos que se enterram no substrato, a exemplo do niquim (Talassophryne nattereri), bem como àqueles que têm por hábito viver em "buracos", como o cramuru (Ophichithidae). Estes são peixes carnívoros que vivem sobre o fundo, de preferência em águas costeiras (Figueiredo e Menezes, 1980a).

Os exemplos de peixes citados pelos pescadores como "peixes de lama" são concordantes com os dados da literatura sobre espécies que habitam fundos lodosos ou lamacentos. Para M. furnieri, por exemplo, Figueiredo e Menezes (1980a) afirmam que esta espécie é encontrada em fundos de lama e areia, alimentando-se de organismos aí encontrados. Os mesmos autores citam que gerreídeos (carapebas) alimentam-se em geral de pequenos organismos encontrados na areia ou lodo. Moyle e Cech Jr. (1996) afirmam que "espécies frequentemente habitam mais de uma zona (...), mas dentro de uma mesma, a segregação por habitats alimentares parece ser a regra". Os pescadores de Siribinha utilizam diferentes apetrechos segundo o tipo de fundo no qual suas presas preferidas habitam. De acordo com Cordell (1974), as características do fundo dentro das diferentes zonas fisiográficas do estuário constituem as unidades micro-ambientais básicas do ponto de vista da distribuição dos métodos de pesca.

Na etnotaxonomia ictiológica dos pescadores de Siribinha, observa-se a existência de sistemas classificatórios múltiplos, dentre os quais destaca-se o sistema classificatório baseado em critérios ecológicos. A esse respeito, os pescadores possuem uma detalhada categorização, especialmente relacionada com o habitat. Por exemplo, enquanto os pescadores locais têm a etnocategoria dos "peixes de pedra", os pescadores de Lau (Ilhas Salomão) têm as categorias de "peixes que vivem em habitats rochosos e alimentam-se de animais peculiares a rochas e corais", "peixes que dormem sob rochas e reentrâncias coralinas" e "peixes que desovam em habitats rochosos" (Akimichi, 1978). Segundo Marques (1991), ictiólogos clássicos também utilizam características de fundos pedregosos ou coralinos como base para a classificação de conjuntos ictiofaunísticos.

A partir de dados da literatura consultada, pode-se dizer que a utilização de recifes artificiais é um processo historicamente antigo e geograficamente disseminado. Os primeiros registros datam do século XVIII, no Japão (Conceição et. al., 1997). No Brasil, processos semelhantes ao encontrado em Conde foram descritos por Ott (1944), Machado-Guimarães (1995), Marques (1991) e Conceição et al. ( op. cit.). O manejo desta unidade de recurso intencionalmente construída baseia-se na evolução sucessional, originada pelo acúmulo de nutrientes nas estruturas que formam os recifes. Primeiro, surgem microalgas e larvas que, por sua vez, servem de alimento a consumidores de primeira ordem, os pequenos carnívoros, que servem de alimento a consumidores de segunda ordem e assim por diante. No entanto, uma vez que a Lei Federal de proteção dos manguezais proíbe a derrubada da vegetação natural, pesquisadores têm estudado a instalação e eficiência de recifes artificiais feitos a partir de diferentes materiais, tais como concreto, ligas metálicas, pneus velhos e até restos de computadores (Conceição et al., ibid.).

A importância do conhecimento etnoictiológico possuído pelos pescadores de Siribinha, especialmente no que concerne ao entendimento da distribuição temporal e espacial de recursos naturais, resulta em um recurso valioso que deveria ser incluído em estudos de impacto ambiental e de manejo e monitoramente de recursos pesqueiros de valor econômico.

Segundo Johannes (1993), o mapeamento da distribuição espacial de animais vivos não-vivos e amenidades é fundamental para a avaliação de impacto ambiental. Como o autor afirma, os usuários de recursos tradicionais usualmente conhecem a localização e o tempo de um conjunto de eventos biológicos importantes. Tal conhecimento deveria ser utilizado por ecólogos e administradores de recursos pesqueiros, que precisam saber cada vez mais sobre como os ecossistemas funcionam para poder administrá-los corretamente (Zavala-Camin, 1996).

 

Conclusões

O conhecimento acumulado pelos pescadores de Siribinha sobre a distribuição temporal e espacial dos recursos pesqueiros apresenta-se consistente e em sintonia com o conhecimento ictiológico acadêmico. Critérios ecológicos são utilizados pelos pescadores na classificação etnotaxonômica dos recursos ictiofaunísticos.

O manejo correto do espaço e dos recursos naturais e o respeito pelo conhecimento tradicional permitem a manutenção da qualidade do meio ambiente, assim como a conservação dos recursos faunísticos para usufruto tanto das gerações presentes quanto das gerações futuras.

 

6. Referências Bibliográficas

 

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Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer ao professor Paulo Roberto Duarte Lopes (UEFS) pela identificação taxonômica das espécies de peixes, e ao revisores anônimos por seus comentários ao manuscrito. Agradecimentos especiais são dados a todos os informantes por sua hospitalidade e cooperação, pois sem sua colaboração este trabalho não teria sido possível.

 

Key words: Ethnozoology; Traditional Knowledge; Sustainable Development; Artisanal Fishermen.